domingo, 20 de março de 2016

Moda e identidade na Feira Crespa

Hoje a gente vai falar de cabelo e beleza. Já reparou como as revistas de moda (algumas, boa parte) incentivam os cabelos lisos? Aí quando você não tem, faz o quê? A vida toda alisando? Muitas mulheres já tiveram problemas sérios de saúde por conta desses alisamentos.
Nos últimos anos tem surgido um movimento que se chama "Transição capilar", em algum momento as mulheres não aguentam mais a química no cabelo e decidem deixá-lo natural. O resultado é surpreendente, descobrem que seus cabelos são bonitos, saudáveis, menos ressecados do que diziam que era.
Como muitas mulheres estão aderindo a esta transição, muitas estão se organizando para dar / trocar dicas de como cuidar desse cabelo natural e, mais que isso, como valorizar-se e se sentir bela, não só no cabelo, mas também na pele e nas roupas.
A Elaine Rosa, nossa entrevistada de hoje, passou pela transição e criou uma Feira Crespa, que aborda desde moda a produtos para a pele e cabelos negros. O principal objetivo da feira é de empoderar as mulheres pretas, para que se valorizem e valorizem sua beleza.

A próxima feira é dia 26 de março, na Pavuna. Aparece por lá!!



Abaixo, nossa entrevista! Super obrigada, Elaine!

1- Como foi que você decidiu de uma vez fazer a transição Capilar?
ELAINE - Meu Cabelo nunca se adaptou com as químicas, fossem as para alisar ou enrolar, relaxar, meu cabelo sempre caiu. Lembro exatamente do momento que cortei pela raiz, meu atual noivo, na época namorado , teve um grande peso sobre minha posição!!! Meu cabelo era trançado por uma amiga da família desde criança, a tia Aparecida, talvez ela não saiba da total importância que ela teve, vai saber agora rs! Então marquei com ela, ela teve um contratempo e não pode me atender. me lembro de estar olhando no espelho e desesperada sobre o que fazer, como sair do quarto com "aquele cabelo assim", meu namorado chegou atras de mim e falou: " - o que você tá com vergonha? seu cabelo é esse !!! não são suas tranças!!!" engoli seco e sai do quarto, fui "encarar"a família dele e a primeira reação foi a sobrinha do meu noivo me olhar admirada e dizer que meu cabelo estava lindo.... tempos depois ela disse a mãe que queria fazer o mesmo.
Entendi que representatividade importava. Participava da Agência de Redes para Juventude, então chegar com cabelo crespo e altos penteados no grupo de meninas também em transição foi um bom estímulo, pra elas e pra mim! 


2- Qual a importância de se reconhecer no vídeo e nas revistas de moda?
ELAINE - Acredito que seja aquela parcela de coragem!!! Como vou fazer algo sem saber se o outro vai gostar? o tempo todo esperamos reconhecimento do outro não a nossa felicidade, a nossa vontade....
Ter alguem te dizendo que tpa bonito, que ta parecida com fulana ou ciclana, faz diferença na sociedade que vivemos. Quando mostramos outras referências escondidas por essa cultura de imposição, onde as referências usavam turbantes, cabelo crespo e roupas brancas ou coloridas, entendemos que estamos nos referindo á um novo norte de referencial.

3- Como decidiu criar a Feira Crespa e como ela funciona?
ELAINE - A feira crespa nasceu dentro de um ciclo de estímulos, bem no meu momento de transição, sem trança e com cabelo caindo, resolvi pesquisar e vi muitos grupos de debates do face e somente o encrespando de encontro.
Eu queria fala de empoderamento negro através de 3 viés: grife, dicas de produtos e serviços pra pele negra e a feira, mas aí no ciclo de estímulos da agência eu tinha um valor para receber de incentivo que não contemplaria tudo. junto com meu grupo tivemos que escolher e escolhemos a feira crespa. Hoje após 1 ano, a grife que queríamos fazer saiu do papel, a Rainha Crespa é a Marca que produz eventos, e portanto a feira e também dá nome a Grife que traz roupas e acessórios. A feira é multilinguagens e acontece de 3 em 3 meses, no ano de 2016 ela quer ganhar outros territórios fora da pavuna e ter mais edições. Nós abrangemo a estética como maior elo de ligação com a mulher preta que vem atraída a saber o que que está acontecendo, a partir disso é o contato um a um que modifica e causa uma experiência diferenciada, que o povo na Pavuna não estava acostumado a ter. E quase um sentimento único, essa coisa de aproximar o outro irmão do movimento.
Hoje a feira tem o evento e o desdobramento que é o encontro da feira. tudo adm pela Rainha Crespa.



4- De que modo a feira ajuda no empoderamento das mulheres negras?
ELAINE - Nada é imposto, acreditamos que cada uma tem seu momento. A proximidade com os discursos e as posturas aumenta o territórios, acreditamos que assim não oprimimos ninguém e temos todos juntos.
 
5- O que você vê de mais grave no racismo no Brasil? Ou o que seria destacado como mais cruel num país ainda tão racista?
ELAINE - Tanta coisa ainda em alta que difícil, destacar uma coisa só! Mas o extermínio da juventude negra me dói muito, como acredito que uma mulher empoderada pode ensinar os seus a se defenderem a não se calarem diante desse extermínio, eu toco nessa ferida, cultural e social que trazemos até hoje.

6-  Qual é o retorno mais positivo que você recebe realizando a feira?

ELAINE - Engraçado essa pergunta, pois alguns acham que a visibilidade é algo "pika" pra mim, rs! eu comecei a fazer terapia pra me ajudar com isso, me assusta. mas acho que o que faz mais feliz e ver as pessoas mudadas por coisas q conseguimos tocá-las, quer me fazer chorar é ter uma pessoa que chegue me falando que a feira crespa mudou a vida dela, cada uma é uma emoção diferente, fico feliz em fazer diferente na vida das pessoas.




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