domingo, 13 de março de 2016

Feminismo, moda e identificação - um blog escrito por mulheres reais e para mulheres reais!







escrito por Vida Oliveira



Hoje a gente fala do site Diva Sem Frescura. Criado pelas divas Jenny Santos, Luma Matos e Olga Bon, o blog surgiu em 2015 a partir do desejo de abordar a moda de uma forma diversa e real. Hoje, além das três autoras, o site conta com a colaboração fixa da Daniele Fabre, que fala de cinema, literatura e outras coisinhas maravilhosas e a Flávia Muniz, que arrasa com dicas de maquiagem.
Cansadas da dificuldade em se identificarem com o que viam nas revistas, outdoors e televisão, queriam um espaço em que toda mulher fosse bem-vinda para falar sobre ser diva e sentir-se viva.

A gente bateu um papo com as três que, na fanpage do blog, já acumulam quase 5 mil fãs.  Tais postagens, ao falar de moda, maquiagem, relacionamentos e feminismo, valorizam a mulher e buscam libertá-las das amarras da ditadura da beleza. Eu mesma, fã assídua do blog, curto diariamente as dicas e textos. Para mim que sou parda com traços de índia, ler um blog de moda que me traga identificação é tipo sentir que também posso ser linda e, lembrar diariamente que posso ser linda é  grandiosamente inspirador. Obrigada, meninas.

Segue a entrevista com as divas do Blog "Diva sem Frescura":


1- Para vocês, qual a importância de um blog de moda em que o leitor / leitora se reconheça nas fotos, nos videos, no post? 

OLGA: A principal importância, que eu enxergo logo de cara, é a representação de estilos, corpos e cabelos que não estão expostos nas capas de revistas nem nos personagens de destaque nas novelas. Quando falo representação, quero dizer que procuramos falar com as pessoas que passaram uma vida sem se enxergar na mídia, sem ter exemplos que valorizassem diferentes padrões. Eu, como branca e magra, sempre me vi representada por aí e mesmo assim caia na armadilha do "nunca tá bom". Sempre tinha algo pra mudar, pra melhorar. Imagina, então, quem não tinha nada? E graças ao blog e ao contato com tantas mulheres maravilhosas, corajosas e lindas pude desenvolver empatia mais do que nunca e o maior trunfo do nosso blog é o fato de ele ser diverso e plural, procurando sempre trazer luz à todo o tipo de cabelo, corpo e cor de pele.


LUMA: Como mulher negra, posso dizer com muita propriedade que não estamos representadas na mídia, nos jornais, revistas, sites, novelas, filmes. É claro que questionamos o padrão de beleza, mas hoje, as negras são pouquíssimo representadas, até mesmo em uma representação fora do padrão. Quando eu era criança, várias vezes me lembro de comentar com as minhas amiguinhas que eu gostaria de ter nascido loira, de cabelos lisos, que queria ser branquinha... E hoje vejo que esse devaneio infantil era pela falta de representação na mídia e nos espaços de poder. Faltavam referências que me inspirassem e que pudessem servir como ícones para meninas como eu. Hoje com o blog, vejo o quanto as leitoras se sentem confortáveis e representadas quando percebem que não são obrigadas a serem magras, a terem cabelos lisos, a terem as maquiagens mais caras e uma vida de socialite (isso marcou muito o início da febre das blogueiras). Acho extremamente importante mostrar e até mesmo ser uma referência para todas as pessoas que não se encaixam no padrão, ou seja, representar a maioria das mulheres. 

2 - A Luma passou pela transição capilar. A vivência com o site e com os/ as leitores(as) teve influência nessa decisão pela transição? Como foi compartilhar no blog os momentos da transição e de que modo compartilhar esse momento pôde incentivar mais pessoas a passar pelo momento da transição? Vocês conhecem pessoas que se encorajaram a partir do blog? 

LUMA: Criamos a ideia do blog em agosto de 2014, e em janeiro do ano seguinte, quando nosso blog nem tinha ido ao ar ainda, eu estava decidida a passar pela transição. Compartilhar os momentos difíceis e as novas descobertas que fui fazendo me ajudou muito, porque muitas meninas se identificaram, vieram conversar comigo, trocar experiências, foi gratificante demais. Eu tenho certeza que só consegui passar por toda essa transição (que parece ser só estética, mas é muito mais emocional do que isso) por causa de todo incentivo, apoio e exemplos que tive. Tenho muito orgulho e certeza da minha escolha ao ouvir cada menina que resolve parar de alisar inspirada na minha transição, e geralmente elas entram em contato, conversam comigo, me contam suas inseguranças e pedem dicas. Isso é maravilhoso. Sempre me disponho a ajudá-las em tudo porque sei como é difícil. O cabelo é o símbolo da feminilidade,e cortar tão curto abala totalmente as estruturas de uma mulher vaidosa. Fazer tudo isso por um cabelo que não é o padrão e que ainda é muito estigmatizado, numa sociedade extremamente racista onde várias empresas deixam de nos contratar por causa da estética afro do nosso cabelo então... É uma decisão super difícil. Mas vejo que o apoio é o meio mais eficaz de ajudar todas as meninas que decidem passar por isso, e sei que o nosso blog ajuda nesse quesito.

OLGA: Apenas para complementar a resposta da Luma, essa questão de uma rede de apoio é MUITO importante. Quando falamos de sororidade, de ajudar umas às outras, quando nos chamamos de "migas" ou "manas" queremos dizer que podemos ajudar umas às outras com a troca de experiências e inseguranças. 

Na foto, as três autoras do blog. 


3- Como é a relação com os / as fãs? Vocês recebem muitas mensagens, sugestões de postagens?  

LUMA: Em geral, recebemos muito feedback positivo das meninas.Geralmente elas nos dão sugestões de temas que causam insegurança em toda mulher, como por exemplo relacionamento abusivo, machismo e casos aleatórios que são absurdos para as mulheres. Também recebemos muitas sugestões para falar de moda e maquiagem, e fazemos isso, mas a marca registrada que causa maior abertura para as meninas nos pedirem posts com certeza é o feminismo. 

OLGA: É uma relação de muito carinho. Porque quando a gente percebe que fez algo que realmente ajudou ou botou alguma menina pra pensar no sentido de ter inserido nela um olhar crítico em relação a sociedade machista em que estamos inseridas, ficamos muito muito muito felizes. Dá uma sensação incrível de trabalho de sementinha. Como se ajudássemos a plantar uma sementinha em uma menina, que irá se tornar cada vez mais empoderada. 

4- Como funciona o site? Vocês se reúnem semanalmente para decidir o editorial e as pautas? Ou é mais livre a criação? 
OLGA: O site funciona através de um planejamento prévio, pois ele não é a renda fixa de ninguém. Todas temos (muito) trabalho e estudamos, então tudo precisa ser feito de forma antecipada. Por exemplo, às vezes combinamos um dia para gravar vários vídeos de uma vez pois não temos tempo de nos encontrar sempre, infelizmente. Na criação do blog, nos reuníamos bastante até chegarmos em um denominador comum. Hoje em dia, temos um grupo no whatsapp bastante ativo, em que trocamos ideias, sugestões, pautas... mas não decidimos o que ninguém vai falar. Todas têm total liberdade de escrever o que quiser, pois todas as integrantes (incluindo nossas maravilhosas colaboradoras fixas Daniele e Flávia) são feministas e temos uma visão política bem parecida. Dai fica mais fácil das pautas baterem. Já perdi as contas de quantos textos escritos por outra integrante poderiam ter sido escritos por mim. É pura harmonia! E como nossas conversas são sempre ótimas, acontece muito de alguém dizer "ah quero falar sobre tal coisa" e ai todo mundo começa a falar sobre essa coisa e vamos trocando e aprendendo sempre. 

5- Nesses anos todos de site, qual tem sido o maior aprendizado de cada uma?  

LUMA: Em fevereiro de 2016 nós completamos um ano de blog, mas parece que tem muito mais, com tanta coisa que já aprendemos! A maior delas, para mim pelo menos, é que vale à pena mostrar o nosso ponto de vista, não importando as críticas. Nem todo mundo vai concordar com a gente, mas ao ler um texto, muita gente vai aprender, vai se sentir acolhida, apoiada, aliviada... Isso é o que nos importa e faz diferença no fim das contas.

OLGA: Não são tantas anos, é um ano só! Uma loucura, pois tanta coisa aconteceu nesse 1 ano que já poderíamos fazer uma festa de "10 anos de blog"... hahaha... é complicado falar o maior aprendizado porque foram muitos. Mas pra mim, pessoalmente, o maior deles foi desenvolver empatia. A se solidarizar com a dor do outro, a respeitar a luta do próximo, entender que somos diferentes. Eu sempre respeitei muito as lutas e as bandeiras das "minorias" ou de grupos marginalizados, mas com o blog eu ganhei um outro olhar, uma perspectiva mais madura e uma vontade de falar bem alto. Até porque nessa altura do campeonato já nos acostumamos a sermos as "problematizadoras-mimizentas-vê-problema-em-tudo"! 

JENNY: O que mais aprendi com o blog é que a gente não está sozinha. Tem um milhão de mulheres por ai que passam pelo mesmo que a gente passa, têm suas inseguranças, seus relacionamentos abusivos, suas superações, sua história. E isso me fez mudar a forma de ver certas coisas. Construindo esse espaço de integração, discussão e até posso dizer de aconselhamento, ficou claro pra mim que, mesmo que nossas realidades sejam diferentes, estamos todas juntas. Ser mulher nos uni.

6- Como é ser diva sem frescura? Quão libertador é sê-la?  

LUMA: Ser diva sem frescura é basicamente ser você mesma, se livrando a cada dia dos padrões impostos pela sociedade, se libertando de todos os "mas mulher TEM QUE..." que a gente ouve diariamente, é perder o medo das críticas, é ser livre para ser imperfeita e vulnerável, e ainda assim, ganhar a admiração de pessoas tão imperfeitas e vulneráveis quanto você. Ser diva sem frescura é se cuidar sabendo que aparência não é tudo, é defender os seus direitos sem drama e sem vitimismo. É ótimo, inclusive convido todas a serem também!

OLGA: Eu acho que ainda não posso afirmar que é libertador ser diva sem frescura, porque crescemos ouvindo tantas coisas sobre como devemos ser e o que devemos fazer que é muito difícil se livrar totalmente dessas camisas de força sociais. Queria ser 100% livre, mas não sou. Ainda caio em armadilhas feitas por mim mesma. Mas posso dizer que estou muito melhor do que antes e a aura de uma diva sem frescura está repleta de respeito a si, a seu corpo, a suas vontades. É saber que as críticas sempre vão existir, independente de você ser de direita, de esquerda, loira, morena, gorda, magra, negra, branquela, se trabalha pra caramba e ganha dinheiro, se opta por ficar em casa cuidando dos filhos, se vai ficar quieta ou se vai bater de frente: amiga, sempre vão nos criticar. Ser diva sem frescura é se amar apesar das críticas, é perder o medo de ser você mesma, é respeitar a luta das mulheres que vieram antes de nós, é ir em frente. 

JENNY: Ser diva ser frescura é ser livre. Escolher o que quer para si, sem depender do que qualquer padrão anda estabelecendo por ai. É enxergar o melhor de si, e a cada queda, cada perda de esperança, conseguir se levantar e voltar a luta. É ser você mesma e deixar que os outros sejam eles mesmo. E para mim não há nada de mais libertador do que viver como quero e não me sentir presa a nada.


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